sexta-feira, 16 de maio de 2014

Nome da filha


Foto: Milton Jung

Enquanto seguia no ônibus, na falta de fones de ouvido, escutei a conversa de duas mulheres (A e B) que falavam alto à minha frente. O assunto era nome dos filhos.
A - Uma amiga minha colocou Byron, com Y, achei horrível. Sei lá o que ela queria dizer, bye bye alguma coisa... sei lá.
B - A minha chama Mariah, com H no final, pra falar Mariá.
A - O meu não sabe falar o nome dele, ele fala "Boia", é Brian.
B - Brian é bonito. O pai da minha filha queria colocar Stephanny, com PH, dois N e Y no final, mas eu achei estranho. Por que ele queria esse nome?
Já perguntei logo "por que você quer colocar Stephanny? É o nome de alguma ex? Alguma coisa mal resolvida na sua cabeça? Ai ele falou que só achava bonito, chique. Aaaaaah, que chique o quê! Certeza que é o nome de alguma vagabunda ex dele. Falei que não ia colocar esse nome na minha filha, porque devia ser o nome de alguma daquelas macumbeira (sic) que ele pegava, depois as macumba (sic) ia cair tudo na menina, credo.
A - Tá certo!
B - Na verdade eu queria Marrie, que é Maria em outra língua, mas ele falou que era menina, não era um gato. Por isso eu escolhi Mariah. Maria é muito simples. Falei, vai ser Mariah Isabelle, normal, com dois L e E no final, mas ele disse que a filha dele tinha que ser chique, então ia ser Mariah Isabelly, com Y.
Ele ainda tentou falar de colocar Stephanny, eu falei que se colocasse isso nela, eu ia ter outros filhos e colocar João, Pedro, Marcio... tenho cinquenta ex pra dar nome também.
A - É isso ai, não pode dar mole.
B - Humpf, deixa ele.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O tamanho dos problemas

Foto: Eduardo Bernardino

12h17.
Enquanto esperava o semáforo abrir os problemas do cotidiano confundiam a letra da música que eu tentava cantar. Problemas que parecem grandes, parecem aumentar, parecem sempre aparecer no pior momento. Horário de almoço. Fome. Sinal verde, alguém atrapalha o tráfego, buzinas, xingamentos, sinal vermelho. Ando apenas alguns metros. Motocicletas, mais buzinas, caminhões, mas já não chegam os problemas para atrapalhar a música? Tento me concentrar, fecho os vidros, tento não pensar em nada, afinal nada posso fazer naquele momento, mas não consigo.
Respiro fundo, apoio a cabeça na mão e ao olhar para o lado os problemas que pareciam de agigantar mostram toda sua pequenez. Na calçada, entre a guia e um rio mal cheiroso, um homem está sentado debaixo de uma pequena árvore. Sujo e mal vestido revira a mochila como se procurasse algo. Encontra.
Presto atenção. Ele começa a abrir um papel amarelado muito amassado de uma rede famosa de fast food e com as mãos sujas come os restos que jazem na  embalagem. Cada farelo é aproveitado pelo homem, enquanto eu aproveito cada segundo da cena para refletir sobre “quais eram os meus problemas mesmo?”. Não há foto para a história, achei que seria muito injusto explorar uma imagem como esta. O semáforo abre, os carros seguem, a vida segue, não consigo mais cantar, só penso nas coisas que aquele homem deve passar diariamente.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Padaria

Padaria Bella Paulista - Foto: Divulgação

Gosto de ir a padarias. Não apenas pelas delícias que encontramos no lugar, mas também pelas coisas que escuto. Recentemente presenciei o seguinte diálogo entre cliente e atendente de uma padaria que costumo frequentar:
- Isso aqui é de queijo?
- Queijo com calabresa.
- É bom?
- Dizem que é, vende bastante, mas eu não como. Não posso comer coisa muito salgada, tenho problema com a minha pressão, nunca como essas coisas, mas eu já acostumei, nem sinto vontade mais, apenas olho, acho bonito, parece bom, mas eu não como, não posso mesmo, senão passo mal...
- E esse aqui? - disse a cliente cortando o assunto.
- Esse é com azeitona. Ai, credo, azeitona, eu não gosto. Não como nada com azeitona. Em casa, por mim, nem a pizza precisaria vir com azeitona, mas meu marido gosta, ele sempre come, até pura. Quando chega a pizza eu já pego a minha azeitona e jogo no prato dele, às vezes ele nem quer, mas eu coloco, não estou nem aí, ele fala "não quero mais azeitona, não precisa colocar no meu prato, não quer comer deixa na caixa", ah, mas eu coloco e falo "toma, você que gosta", ou às vezes dou a azeitona para o meu filho, ele come, não reclama, "toma, filho, eu não como", ele nem liga. Fora que também é muito salgado pra mim, né? Então tenho dois motivos para não comer.
- Uhum...
E a cliente saiu, não levou nada além do pão francês. Nunca mais vi a tal atendente, uma pena, era divertido. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Nascer do Sol

Foto: Eduardo Bernardino

Sei que esse é um tipo de foto considerado muito clichê, mas não me canso nunca de ver o sol nascer. O sol poente também é bonito, mas seu nascimento tem um gostinho diferente.
Seja onde for, na cidade, na praia, no campo, não importa, o sensação que tenho ao ver o dia raiar ensolarado é indescritível. Ver aqueles tons alaranjados, sentir o calor suave dos primeiros raios que atingem a pele, saber que ganhei mais um dia de vida e que a vida ganhou mais um dia de presente... tudo isso me faz adorar este momento.
Esse é o motivo pelo qual fiz o post "não pare a noite".

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Não pare a noite

Foto: Eduardo Bernardino

A placa surgiu assim mesmo, sem crase. Com certeza o erro não foi proposital, mas trouxe reflexão. A mente foi longe, não transcreverei. Apenas não pare a noite, senão nunca verá novamente o nascer do sol.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sorria


Foto: Eduardo Bernardino

Por quase duas horas fiquei nesta movimentada travessa da Avenida Paulista (Av. Paulista x Rua Augusta). Conversava com o Budifan, artista de Minas Gerais, nos intervalos entre o verde e o vermelho do semáforo. 
De passagem por São Paulo para participar da virada cultural, ele estava ali apenas para se divertir e levar um pouco da arte do circo para quem nada pode fazer além de ficar parado, esperando a largada.
Nestas duas horas, nenhum sorriso, nenhum aplauso, nenhum aceno, nada, apenas o barulho dos motores, seguido do barulhos das buzinas que eram tocadas com raiva no exato momento que a luz verde se acendia.
Pra onde será que estavam levando aquele peso todo com tanta pressa?
Uma criança que estava com seu pai parou para ver o que aquele palhaço fazia com malabares no meio de tanto caos, gostou, parou novamente na calçada pra ver um pouco mais, mas logo foi arrastada pelo adulto que se apressava em continuar em frente, em meio aos fantasmas que por ali caminham sem notar uns aos outros.
Por que será que não se dão o direito de sorrir? Gente estranha, sisuda.
Sei que eu me diverti bastante e ainda fiz um amigo relâmpago (mineiro adora uma boa prosa), daqueles que não teremos mais contato nem notícias, mas que podem deixar sua marca se nos permitirmos compartilhar um minutinho de alegria.